Apresentação

Aos alunos ingressantes no curso de Filosofia da UFSC

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            A Filosofia é um estudo, uma disciplina acadêmica, porém não é uma ciência (como a Física, a Matemática, a Biologia, a Economia…), o que implica: a) que não existe nela um saber cumulado que seja ensinado/aprendido como “conteúdo”; b) que dedicar-se à Filosofia não inclui atividades científicas tais como experimentos, medições e uso de aparelhos. Tampouco existem pesquisas filosóficas em equipe, em sentido próprio; nem mesmo algum tipo de “trabalho de campo”, como nas ciências sociais.

            Mais do que a Filosofia existe o filosofar, no sentido de praticar uma reflexão sistemática e saber argumentar a propósito de certas questões ou assuntos, visando alcançar uma resposta (por meio de conceitos e argumentos) aos mesmos.  Exemplos de questões filosóficas são: Que significa conhecer algo? Estou raciocinando de maneira correta? Qual é o sentido da vida? Como deveria ser uma sociedade justa? O que significa ser virtuoso? Em que consiste a beleza?

            É necessário distinguir entre dois sentidos da Filosofia: por um lado, a que poderíamos denominar “Filosofia espontânea”, isto é, as questões filosóficas que qualquer ser humano pode formular, seja por curiosidade ou por angústia, sem necessidade de ter lido as obras dos filósofos famosos e até sem conhecer a palavra “Filosofia”. Dessa Filosofia espontânea devemos distinguir a Filosofia acadêmica, aquela que se pratica na Universidade e que vocês irão assimilar durante o Curso de Filosofia.

            O estudo acadêmico da Filosofia tem por finalidade ajudar o estudante a compreender as questões filosóficas, o que implica amiúde conhecer o que os filósofos famosos (Platão, Descartes, Nietzsche, Heidegger, Popper, etc.) escreveram a propósito das mesmas. “Compreender” uma questão filosófica significa entender seu sentido e sua relevância, tanto do ponto de vista da história da filosofia quanto do ponto de vista do filosofar mesmo. Se o estudante tem já uma preocupação filosófica específica, ou se “desperta” para ela durante o curso, o estudo deveria ajudá-lo a encontrar uma resposta que o satisfaça.

            A observação anterior é da maior importância para que as atividades próprias do Curso: leitura e redação de textos filosóficos, discussões durante as aulas, esforços de interpretação, eventual aprendizado de uma língua estrangeira para ler o filósofo diretamente, etc., não se transformem em fins em si mesmas. O estudante de Filosofia não deveria ser apenas alguém que leu muito, ou que tem muita informação sobre autores e doutrinas, mas alguém que pensa filosoficamente melhor graças ao Curso que freqüenta. Pensar filosoficamente, como indicado antes, consiste em abordar os problemas tipicamente filosóficos de forma sistemática e argumentativa. Reciprocamente, não é possível ser aprovado nas disciplinas do Curso tão somente com base nas idéias que espontaneamente o aluno tem. A aprovação requer o estudo dos textos exigidos e a adequada compreensão das questões e teorias tratadas durante o curso (o que não implica adotá-las ou aceitá-las). No entanto, é desejável que o estudante possa julgar criticamente essas teorias e, eventualmente, pensar como superá-las. Certas disciplinas (como a Lógica) exigem desenvolver habilidades intelectuais que também são imprescindíveis para “passar” na disciplina.

            A Filosofia acadêmica tem dois aspectos: um deles é seu percurso histórico, o outro, as áreas que abrange. A Filosofia acadêmica ocidental (aquela que, fundamentalmente, é assunto do Curso de Filosofia) tem uma história que começou na Grécia clássica e se desenvolveu em todos os períodos históricos posteriores até nossos dias. O conhecimento dessa história é essencial para o exercício da Filosofia, e o currículo do Curso inclui quatro disciplinas históricas: História da Filosofia Antiga, História da Filosofia Medieval, História da Filosofia Moderna e História da Filosofia Contemporânea. Mas também há outras disciplinas do Curso de Filosofia que abordam, de forma parcial ou exclusiva, pensadores e textos específicos situados em algum destes períodos da história da filosofia ocidental.

            Do ponto de vista das suas áreas, a Filosofia acadêmica inclui disciplinas setoriais tais como a Ontologia ou Metafísica (em que refletimos sobre aquilo que consideramos “real”); a Epistemologia (que tem como assunto o conhecimento humano); a Lógica (a que analisa as formas de raciocínio, distinguindo as válidas das falaciosas); a Ética (que trata da moralidade); a Estética ou Filosofia da Arte (voltada a compreender a beleza, sobretudo artística); e a Filosofia Política (o estudo das formas de exercício do poder e da legitimação do governo). As áreas mencionadas podem ser consideradas como fundamentais ou clássicas, no sentido de terem sido cultivadas desde antigamente (a antiguidade Greco-romana). Existem também outras áreas filosóficas mais recentes (derivadas, de algum modo, das anteriores), como a Antropologia Filosófica (que aspira a caracterizar o essencial do ser humano); a Filosofia da Ciência e da Tecnologia, a Axiologia (ou estudo dos valores), a Filosofia da Linguagem, a Filosofia da História, e a Filosofia da Religião, entre diversas outras.

            Por outra parte, a reflexão filosófica não obedece a um único método ou enfoque. Ao longo do tempo surgiram diferentes formas ou estilos de filosofar, conforme as diferentes convicções dos filósofos sobre a melhor maneira de abordar os assuntos do seu interesse. Como vocês irão saber, existe, por exemplo, uma filosofia “analítica”, outra denominada “fenomenológica”, uma terceira chamada “dialética”, e assim por diante. Existem tendências ou correntes filosóficas, tais como o empirismo, o racionalismo, o ceticismo, a Fenomenologia. Essa é mais uma diferença da Filosofia com as ciências naturais: Em Filosofia, não raramente se lê ou ouve sobre “a concepção de Aristóteles da vida virtuosa”, ou “a visão fenomenológica do conhecimento e da realidade”. Esse tipo de afirmação seria bizarro em uma ciência como a Física. Vocês irão perceber que os professores adotam uma ou outra dessas abordagens filosóficas, e que, às vezes, os defensores de uma delas rejeitam as outras como inadequadas. Parte do vosso aprendizado da Filosofia acadêmica irá consistir em decidir qual dessas abordagens lhes resulta mais convincente. A possível escolha de uma destas abordagens por parte do aluno implicará na aceitação e no uso de um estilo ou forma de argumentação sobre as questões e temas de uma ou mais das áreas da filosofia acadêmica anteriormente mencionadas.

            O Currículo do Curso (que pode ser consultado na página correspondente: http://filosofia.paginas.ufsc.br/curriculo ), inclui, como vocês já sabem, duas “orientações”, bacharelado e licenciatura em Filosofia. A partir da quinta-fase, o (a) estudante deve escolher uma delas, porém formar-se nela não exclui completar posteriormente os créditos para se formar na outra.

            Atividades inerentes ao Curso: aulas expositivas, exercícios, leitura de textos, redação de textos, debates em sala, seminários, provas. Habilidades necessárias: leitura interpretativa, boa redação, argumentação rigorosa, capacidade de exposição clara e organizada das idéias. Conforme o caso: domínio de outra língua (grego, latim, alemão, etc.). Disposições necessárias: espírito crítico, abertura a idéias novas ou diferentes, esforço para compreender o ponto de vista de outrem. É desejável que o aluno procure, na medida do possível e conforme os temas que mais gosta de estudar, se informar sobre outras áreas da cultura humana, como por exemplo, sobre as principais teorias científicas de um determinado âmbito científico (Física, Biologia, Sociologia, etc.), sobre a história e as teorias das artes (plásticas, musicais, literárias), sobre a história das religiões e suas concepções de vida e de mundo, sobre a vida política, sobre a tecnologia. Esta recomendação deve-se ao fato de que a história e as áreas da filosofia, bem como as formas de filosofar muitas vezes influenciaram ou foram influenciadas por estas outras formas de atividade humana.

            Atenção: os professores podem diferir em: abordagem filosófica, método de ensino/aprendizagem e formas de avaliação. Todos eles têm obrigações comuns (como apresentar um plano de ensino, ter um horário de atendimento e divulgar dentro dos prazos os resultados das avaliações).

            O Departamento de Filosofia: O Curso de Filosofia é uma das atividades desenvolvidas pelo Departamento, sendo as outras:

  • O Curso de Pós-graduação em Filosofia (mestrado e doutorado)
  • Pesquisa em Filosofia, em forma de projetos realizados pelos diversos professores e professoras (28 ao todo).
  • Extensão em Filosofia: projetos de diversos professores relativos a atividades que beneficiam a comunidade, dentro e fora da UFSC
  • Disciplinas filosóficas para outros cursos da UFSC.

            O Departamento é dirigido por um Chefe, e pelo Colegiado do Departamento, integrado pela totalidade dos docentes, com representação dos alunos.

            O Curso de Filosofia tem um Coordenador e um sub-coordenador, e também um Colegiado do Curso, integrado por professores e representantes dos alunos. Existe ainda o Núcleo Docente Estruturante, corpo que tem como missão acompanhar as atividades do Curso, zelando pela sua qualidade.

            Há também monitores (estudantes mais avançados, que auxiliam os professores; são selecionados), estagiários (estudantes de pós-graduação que devem iniciar-se na atividade docente praticando em disciplinas do curso); e bolsistas (de “permanência” [auxílio da UFSC para quem tem dificuldades econômicas] e de pesquisa [para os que se interessam em aprender a investigar em Filosofia]; ambos os tipos são selecionados anualmente a partir de um edital)