Bolsistas da UFSC fazem campanha contra extinção do Programa de Iniciação à Docência

25/10/2017 13:00

Estudantes da licenciatura em Ciências Biológicas e bolsistas do PIBID. Foto: Henrique Almeida/Agecom/UFSC

Entre os 130 expositores da 16ª Semana de Ensino, Pesquisa e Extensão da Universidade Federal de Santa Catarina (SEPEX/UFSC), realizada de 19 a 21 de outubro, alguns apresentavam as ações do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (PIBID) nos diversos cursos de licenciatura na universidade. Para além de exporem as experiências dos bolsistas no programa, os estandes também exibiam cartazes com a campanha “#FicaPIBID”. O PIBID, que existe na UFSC desde 2010, tem atualmente 227 bolsistas de 14 cursos de licenciatura da universidade, o que demonstra sua ampla abrangência e consolidação como atividade essencial na formação de futuros professores. O motivo das mobilizações durante a SEPEX é a possibilidade de extinção do programa a partir de 28 de fevereiro de 2018, quando se encerra o edital vigente. O Governo Federal, até o momento, não publicou novo edital, como seria previsto. E além disso, acaba de apresentar um substituto ao programa.

O Ministério da Educação (MEC) lançou na quarta-feira, 18 de outubro, a Política Nacional de Formação de Professores. Apresentado como um programa “inédito” que visa a “modernização” do PIBID, essa nova proposta está muito aquém das expectativas e necessidades dos estudantes, o que é motivo de preocupação da comunidade universitária. Para o professor do Departamento de Metodologia do Ensino e coordenador do PIBID na UFSC, Hamilton de Godoy Wielewicki, a extinção do programa terá consequências negativas para a educação no país. “O momento atual é para nós de muita preocupação. Não quero ser prematuro na análise, pois tudo que o governo publicou até agora foi apenas o powerpoint da apresentação do ministro e uma notícia. Não há ainda um documento oficial, uma resolução, uma portaria, uma medida provisória. Ou seja, não há documentos que possam efetivamente basear uma análise consolidada. Mas a maneira como está apresentado e algumas coincidências com políticas de outros estados do país, especialmente o estado de São Paulo, nos causa bastante preocupação.”

Segundo o professor, uma das medidas da nova política será direcionar toda a atuação do PIBID para escolas com Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) baixo. “Temos atuação em escolas com essa característica, mas pensando como um programa de formação docente, é preciso pensar também em espaços de excelências nos quais os alunos e futuros professores possam se formar. Também nos preocupa bastante a ausência de informação sobre as possibilidades de acompanhamento adequado desses estudantes em formação por profissionais habilitados. Ou seja: professores formadores da universidade e professores co-formadores nas escolas.” Esse acompanhamento a que Hamilton se refere está previsto na proposta inicial do programa. Conforme consta no site da CAPES, o PIBID visa “promover a inserção dos estudantes no contexto das escolas públicas desde o início da sua formação acadêmica para que desenvolvam atividades didático-pedagógicas sob orientação de um docente da licenciatura e de um professor da escola.”

Os diversos relatórios  apresentados à CAPES e os seminários de avaliação do PIBID realizados na UFSC têm demonstrado o enorme impacto pedagógico do programa. Hamilton argumenta que a presença do PIBID nas escolas faz diferença tanto para a formação dos professores, como também para a aprendizagem dos alunos e para a dinamização das práticas de ensino nas instituições. “E não podemos deixar de lado que a maioria desses 227 bolsistas depende, sob certa medida, das bolsas que ganham para auxiliar na sua manutenção na universidade. Uma eventual perda de um volume tão significativo de bolsas precisa ser visto com bastante preocupação. Esse é um momento grave para a história do PIBID e mesmo para a formação docente como um todo. Uma reforma apressada, como essa que estão fazendo, impossibilita o debate. É realmente preocupante que essas políticas, esses instrumentos, não sejam construídos com a participação das pessoas que dedicam sua vida profissional a isso”, afirma.

Experiências positivas

Ana Carolina Schmitz, 23 anos, está na 10ª fase da licenciatura em Ciências Biológicas e é bolsista do PIBID no Colégio de Aplicação (CA/UFSC). Ela também receia o novo formato proposto pelo MEC: “Não teríamos mais tanta liberdade para atuar nas escolas. O PIBID hoje nos proporciona certa liberdade para desenvolver projetos com alunos e professores. Podemos abordar assuntos que extrapolam os currículos convencionais. Eu, por exemplo, não trabalho em sala de aula. Estou desenvolvendo uma mostra de cinema com os alunos. Nesse novo formato, isso provavelmente não será mais possível. Os bolsistas serão apenas estagiários em sala de aula e terão que cumprir o currículo estabelecido.”

Kananda Cristina. Foto: Henrique Almeida/Agecom/UFSC.

Kananda Cristina Ribas, 30 anos, estudante da 4ª fase do curso de Química, é bolsista do PIBID há um ano. Ela atua na Escola Vereador Oscar Manoel da Conceição, no Rio Tavares. Para a estudante, além de contribuir para sua formação, o programa também ajudou na sua escolha profissional. “O PIBID agrega muita coisa. Eu estava em dúvida sobre fazer licenciatura ou não e minha experiência como bolsista está sendo importante para eu conhecer e vivenciar a situação das escolas. É uma oportunidade de fazer coisas diferentes, de aprender com os professores, com os alunos e também com outros bolsistas. Participar do programa me deixou muito mais motivada para permanecer no curso.”

Vinícius José da Silva. Foto: Henrique Almeida/Agecom/UFSC.

Outro estudante da licenciatura em Química, Vinícius José da Silva, 22 anos, está na 5ª fase do curso e é há oito meses bolsista do PIBID na Escola Padre Anchieta. Para ele, o PIBID possibilita ampliar os horizontes da prática de ensino e desenvolver novos métodos de interação com os alunos. “O que vivenciamos nas escolas é muito mais abrangente do que temos em sala de aula. Aprendemos a lidar com diferentes situações, diferentes alunos. Eu acompanhei um estudante que é diagnosticado com esquizofrenia e transtorno bipolar. Ele tinha muita dificuldade de aprendizado, mas consegui ajudar a professora a fazê-lo se interessar mais, a aprender a matéria. Nós desenvolvemos experiências em sala de aula, realizamos jogos, gincanas, entre várias outras atividades que incentivam o aprendizado.”

Rafaeli Saibro. Foto: Henrique Almeida/Agecom/UFSC.

Rafaeli Saibro, 31 anos, da 10ª fase da licenciatura em Ciências Biológicas, é bolsista do PIBID há dois anos e meio. Atuou na Escola Padre Anchieta, no bairro Agronômica, e hoje está no Instituto Estadual de Educação, no Centro. Ele considera que o programa está sendo fundamental para sua formação: “Podemos conhecer o dia a dia da escola, onde existe uma troca de experiências muito rica com os professores, supervisores e alunos. Isso nos ajuda no processo de construção da nossa identidade profissional e, no meu caso, me deu muito mais segurança para a fase que estou agora, que é o estágio obrigatório. Eu já conheço o espaço escolar, a realidade da escola pública.”

O estudante também lamenta a possibilidade de extinção do programa: “Estamos vivendo uma anomalia democrática e muitas políticas, principalmente na área da educação, estão sendo ameaçadas. Exemplos disso são a Reforma do Ensino Médio e a Escola Sem Partido. No caso do PIBID, não existe nenhuma pesquisa, nenhum dado que aponta qualquer aspecto negativo do programa. Pelo contrário, os estudos só mostram como o PIBID tem potencializado a formação docente. Ele é considerado um programa de excelência e o maior avanço nos últimos 10 anos nessa área. Então não há razões para o PIBID estar ameaçado. Para que substituir um programa que está dando super certo? E isso ainda está sendo feito sem nenhum diálogo.”

Números do PIBID na UFSC
227 estudantes bolsistas de licenciaturas
19 coordenadores de área de todas unidades universitárias que oferecem cursos de licenciatura (CCB, CCE, CED, CFH e CFM)
40 professores supervisores de escolas públicas
14 subprojetos, envolvendo os seguintes cursos de Licenciatura: Ciências Biológicas, Ciências Sociais, Educação Física, Filosofia, Física, Geografia, História, Letras Espanhol, Letras Inglês, Letras Português, Matemática, Pedagogia, Psicologia e Química.
16 escolas de educação básica, sendo 9 escolas da rede estadual, 6 da rede municipal e 1 da rede federal, o Colégio de Aplicação da UFSC

A Política Nacional de Formação de Professores apresentada pelo MEC está disponível aqui.

Mais informações sobre o PIBID na página da CAPES, na página do programa na UFSC ou pelo e-mail 

Daniela Caniçali/Jornalista da Agecom/UFSC

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